Orixá
Autor: Olúwo
Ifagbaiyin Agboola
Durante anos
os orixás foram cultuados com base no folclore e na superstição dos que se
diziam conhecedores, o desastre aconteceu e a migração dos adeptos dos
terreiros para as igrejas eletrônicas se tornou um grande problema.
Graças ao
bom senso de uns poucos, bons, sacerdotes nossa religião não desapareceu embora
o impacto tenha sido devastador.
A internet nos salvou de um colapso ainda
maior, as redes sociais possibilitaram que nos reuníssemos em comunidades e
grupos e que tenhamos nos organizado, mesmo sabendo que falta muito temos que
reconhecer esse fato, houve uma movimentação que começou lá atrás com o
instinto Orkut.
Antes da
rede social eram poucos os eventos que os sacerdotes de nossa religião se
encontravam, sacerdotes de vários estados raramente se conheciam e o
relacionamento ficava circunscrito ao âmbito familiar, a rede social e a
internet contribuíram para a organização e a mobilização de nosso povo, embora
as igrejas eletrônicas continuem patrocinando a chamada caça às bruxas.
A falta de união nos prejudicou muito, mas a
falta de conhecimento nos prejudicou ainda mais, a falta de resposta para os
nossos adeptos construiu uma ponte que beneficiou muito aqueles que lavam
dinheiro com as igrejas eletrônicas e prometiam mundos e fundos.
Hoje os
iniciados já não aceitam ouvir historinhas do chapeuzinho vermelho, aumentou o
número de pessoas que se interessam por filosofia e teologia, as exigências
aumentaram, mas o número de sacerdotes que se preparou foi muito pequeno. A
necessidade do aprimoramento do nosso povo esbarra na falta de liderança
nacionais, se tivéssemos representantes fortes e reconhecidos nacionalmente a
história seria outra.
Assistimos
todos dias notícias negativas sobre o nosso povo, as boas notícias não são
divulgadas e infelizmente todos perdemos com isso, a união poderia mudar tudo
isso.
Quando
imaginamos que estamos nos aproximando de uma valorização de nossos líderes
alguns deles despreparados prejudicam a imagem do grupo, casos de pedofilia e
ocorrências policiais das mais diversas são fatos que prejudicam a nossa
religião e nos envergonham.
Na cidade de
Nova York quando foi constatado que a má administração prejudicava o município,
imediatamente foi criado o curso de administração municipal capacitando os pré
candidatos à prefeitura. Em nosso país a administração municipal continua na
mão de pessoas completamente despreparadas e a inversão de valores elege nas
urnas médicos, engenheiros, dentistas como administradores municipais.
Na nossa
religião não é diferente caciques de terreiros de umbanda se dizem Bàbáláwos e
supostas videntes se articulam como Ìyálòrìşàs de, com isso a falta de
qualificação prejudica a nossa imagem.
Existem
casos de pessoas que incorporam com orixás, caboclos e exus em um só dia,
misturando religiões tão diferentes, essa confusão prejudica a todos, essa
mistura pode alimentar o ego de alguns despreparados, mas no fundo todos
estamos sendo prejudicados, e a nossa imagem serve até de inspiração em
programas humorísticos.
Nas
delegacias esse povo que prejudica nossa religião já é conhecido há muito
tempo, alguns agridem seus iniciados, outros tem seus nomes associados a
práticas terríveis, então porque razão eles continuam com as casas cheias de
adeptos?
Será que a impunidade alimenta a falta de
caráter e o despreparo?
Existem
algumas situações que são prejudiciais a todos os adeptos do culto a orixá,
então porque são poucos aqueles que se indignam com esse circo de horrores em
nome das divindades?
A indignação
deveria ser uma epidemia, as barbaridades cometidas por alguns deveriam
indignar a todos, mas muito se calam, por que?
Por que
olhamos para o nosso umbigo como se fosse o centro do mundo?
O cabrito que apodrece na encruzilhada cheira
mal para todos, as garrafas nas esquinas podem cortar os pneus de qualquer um,
a notícia no programa policial envergonha a todos, o escândalo sexual prejudica
a imagem de todos.
Porque poucos se indignam?
Eu tenho
certeza, vai chegar um tempo que Bàbáláwos não vão ter ligação com o tráfico,
vai chegar um tempo que Bábálòrìşàs não vão se reunir para orgias sexuais em
terreiros, vai chegar um tempo que os chefes de terreiros não vão abusar
sexualmente de jovens inocentes, em fim a mudança vai acontecer.
Sempre que nos deparamos com essas situações
uma pergunta deve ser formulada, o orixá quer isso de nós?
O orixá quer
que em um momento de dor de uma família aquele que se diz sacerdote exija uma
fortuna para efetuar rituais fúnebres?
Será que no momento de dor da falta de um ente
querido um diálogo sobre milhares de reais de pagamento de um ritual deve ser
mantido?
Será que o
orixá se sente homenageado quando o sacerdote exige de seus iniciados joias
finíssimas em ouro como presente de aniversário?
Quando o
dito sacerdote depois de uma noite de orgias chega de helicóptero bêbado no
terreiro, isso é culto a orixá?
Será que o
orixá se presta para as procissões públicas onde o sacerdote mostra o seu carro
novo, recebido como pagamento de um ẹbợ?
Até quando
dementes invocaram os nomes dos orixás em seus delírios?
Durante anos
nos foi passado a imagem que o orixá tudo aceita Hoje a internet nos conecta
com a verdade, e rituais constituídos de simplicidade e bondade contradizem as
criações mirabolantes por nós presenciadas.
Informações do território Yorùbá terminam
estarrecendo aqueles que buscam a verdade.
Se na raiz
existe tanta simplicidade como é que os descendentes podem criar tantos
artifícios?
O orixá não
quer isso, o orixá é sabedoria, simplicidade e bondade.
O orixá quer
que sejamos saudáveis, felizes e honestos.
O orixá nos
quer íntegros, responsáveis, sinceros, não existe mais espaço para a mentira e
a ilusão.
O acara, o
akasa e a carne de cabrito já não são servidos em nossas mesas, foram
substituídas por trufas, maionese e estrogonofe.
As casas de orixá estão sendo decoradas com
finíssimas obras de arte, se foi a época que o couro do cabrito era fixado na
parede para secar.
O tempo está passando muito rápido, é chegada
a hora da mudança, ou capacitamos nosso pessoal ou vamos desaparecer.
Vamos
expulsar esse povo que nos envergonha, chegou a hora de exigir honestidade e
dignidade de nossos sacerdotes.