Iniciação em Òrìsà
Autor:
Babalawo Ifagbaiyin Agboola.
A abordagem
que vamos fazer nessa oportunidade é partindo do pressuposto que exista a
indicação de iniciação a òrìsà.
A orientação:
Os rituais tem
como fator determinante o odu que orienta a iniciação e o ebó.
O ebó:
O ebó antecede
a preparação da pessoa nos rituais de iniciação em um procedimento que tem
inúmeras variáveis dependendo do Òrìsà e da pessoa.
Alguns ebó tem
particularidades em razão do òrìsà que vai ser iniciado, mas o mais comum é o
ebó orientado por Òrúnmìlà para a ocasião.
Um exemplo
que podemos citar é a conhecida ida ao rio que em alguns casos é motivada pela
necessidade de ebó para o iniciado, mas que na grande maioria da vezes acontece
para que se possa recolher a água para os banhos e as preparações do axés.
Os participantes:
É comum ver
nas iniciações pessoas que são responsáveis pela iniciação solicitar que outras
pessoas submetam o iniciado ao ebó.
Particularmente
não concordamos com essa pratica por acreditar que o sacerdote é o responsável
direto por todos os rituais da iniciação, até porque desconheço dentro da
cultura de òrìsà funções que se sobreponha as demais inviabilizando que o
sacerdote responsável deixe de participar de algum ato da iniciação.
Para mim
tais fatos caracterizam preguiça ou desleixo, salvo raras exceções.
A constante observação:
Após os ebós
as consultas que envolve a iniciação deve ser retomada para que sejam definidas
os elementos complementares nos assentamentos e a sequencia dos rituais. O bom
sacerdote não se descuida durante todo o processo, mantendo se fiel às
orientações dos òrìsàs.
Folhas:
A ideia que as
folhas boas são aquelas colhidas antes que o sol nasça limita a atuação do
sacerdote com a dinâmica que a vida exige.
Essa afirmativa me parece antagônica a realidade do dia a dia na terra mãe
O banho:
Os banhos
citados acimas tem como finalidade primeiramente eliminar as energias negativas
que possam prejudicar o iniciado nos rituais da iniciação, da mesma maneira que
alguma folhas também tem propriedades atrair energias positivas, o banho deve
ser administrado com cuidado na escolha das folhas.
Tirar o cabelo:
Depois do
banho e da troca de roupa inicia raspagem da cabeça do iniciado, o cabelo
deverá ser guardado junto com a roupa antiga do iniciado.
O bori:
O bori assim
como alguns ebós para Egbe òrún e outros òrìsàs contribuem para o
restabelecimento de contato com a essência que identifica o iniciado com o os
seus antepassados.
A preparação:
Após o
período do bori que pode variar de uma hora a até três dias começa os rituais
referentes à Egúngún, quando necessário.
Essa ordem é
modificada de acordo com as instruções dos òrìsàs considerando a particularidade
que envolve o iniciado e a divindade.
Exemplo:
Os rituais
de Egúngún que antecedem os rituais de Èṣù nas iniciações de Oya tem a sua
ordem alterada em virtude da necessidade em alguns casos da iniciação a Egúngún
anteceder a iniciação a Oya. O mesmo pode acontecer com outros òrìsàs
dependendo da necessidade do Iniciado.
Èṣù:
O Esú pode
ou não ser assentado dependendo da orientação do òrìsà, particularmente prefiro
que todo iniciado tenha o assentamento de Èṣù.
Na religião
tradicional pode ser usado eres de madeira para o assentamento de Èṣù, porém o
mais comum é que o assentamento seja preparado em Yangui.
O Assentamento:
O
assentamento é composto de elementos minerais, animais e vegetais previamente
escolhidos e selecionados, os animais assim como as folhas e os objetos que
consistem o assentamento devem estar em perfeitas condições dispensando o
requinte e valorizando a essência.
O encontro:
O iniciado
com a cabeça raspada e a roupa nova após fazer ebós e propiciar o seu Orí esta
preparado para o encontro com o Òrìsà. Nem sempre os rituais habilitam o
individuo a ser aceito e purificado diante dos òrìsàs.
Engana se quem
pensa que o dinheiro compra tudo.
A atitude
diante do òrìsà é o elemento que sustenta a relação homem divindade.
A magia:
Esse ponto
do texto que fala superficialmente sobre iniciação deve ser bem compreendido
principalmente por quem pretende ser iniciado em òrìsà.
A magia que
envolve o momento do assentamento do òrìsà deve ser absorvida pelo iniciado e
por todos os participantes.
É importante que a energia do local e das
pessoas esteja em alinhamento com as aspirações do iniciado.
Pessoas que
possam criar qualquer desconforto com suas presenças ao sacerdote e ao iniciado
devem ser convidadas para que se retirem.
A individualidade:
A ordem dos
rituais pode sofrer alteração, a variável é muito grande e o uso de rituais
idênticos para pessoas diferentes não é indicado.
É importante
ressaltar que o culto ao òrìsà sempre que praticado por pessoas habilitadas
trás inúmeros benefícios para o iniciado, independente de qual òrìsà seja
venerado.
Os benefícios dos Participantes:
A pessoa que
se predispõe a ajudar em uma iniciação deve saber que não existe hora marcada
para terminar os rituais.
Os benefícios
de participar de uma iniciação são para aqueles que têm a sensibilidade de sentir
o òrìsà.
A decisão:
É verdade
que o alinhamento correto com a energia da divindade proporciona para cada
pessoa um resultado diferente, considerando as variáveis que estão contidas
primeiramente no odu de nascimento e no Orí.
Por essa
razão a decisão de ser submetido a uma iniciação em Òrìsà deve considerar inúmeras
implicações, sobretudo as familiares e a econômica.
O
assentamento do òrìsà não é uma exigência do iniciado, é a orientação que
implica no restabelecimento da ligação do mesmo e o seu òrìsà, não implicando
em incorporação ou sacerdócio.
A festa:
A iniciação
seguida de festa é uma exigência que atende a vaidade do homem, a iniciação não
depende de publico e aplausos, assim como não depende de roupas bonitas. Os
rituais que aproximam o homem da divindade dispensam luxos e exageros.
O terceiro dia:
No terceiro
dia é feita a apresentação do iniciado ao egbe, e a consulta ao orisá que
indica o odu de orientação.
O sétimo dia:
No sétimo
dia após a iniciação é dada a continuidade aos rituais que compõem o processo
que habilita o iniciado ao sagrado.
O decimo sétimo dia:
Quase sempre
no decimo sétimo dia termina o primeiro ciclo de preparação do iniciado a vida
de olóòrìsà.
É muito raro
que o òrìsà oriente que os rituais se estendam por mais tempo, além do decimo sétimo
dia.
No passado a
pratica de estender o tempo de reclusão de um iniciado servia par suprir a
falta de mão de obra nas cozinhas dos egbe orisá.
A iniciação em òrìsà tem que ser positiva na vida do iniciado e jamais deve ser caracterizada por tristezas e privações.
O segredo:
Não vamos
abordar aqui as iniciações em todos os òrìsàs por uma questão obvia, já que a
nossa intenção não é ensinar a iniciar, mais sim provocar o debate entre as
pessoas que querem saber um pouco mais sobre a religião tradicional yoruba.
A necessidade
de alimentar a terra como parte da preparação para iniciação, pode existir,
porém é importante deixar claro que não existe uma regra, para orìsàs variados,
existem rituais diferentes que preparam o iniciado.
O Sagrado:
Abstraindo a
imagem folclórica que envolve ritmos e cores, a iniciação a òrìsà é a
construção de uma ponte que liga o passado ao presente e ao futuro, onde o
homem tem a oportunidade de dignificar seus antepassados, buscando a evolução
espiritual como forma de constituir um exemplo para seus descendentes.
Desmistificando:
A ideia de
que quem conhece tem a obrigação de ensinar tudo àquilo que aprendeu é falsa,
quem quer aprender se dedica e quem merece recebe.
Eternamente:
O iniciado
agora denominado Olóòrìsà deve respeitar o seu Òrìsà e os membros de sua família
eternamente, a iniciação não caracteriza a capacitação e os bons gestos de hoje
não contribuíram para amenizar os erros do futuro.
A Consciência:
É evidente
que quase tudo que envolve uma iniciação não deve ser divulgado, os rituais
pertencem a aqueles que foram submetidos e a curiosidade jamais deve inspirar
aqueles que desconhecem o verdadeiro valor do sagrado.
Todo
iniciado deve manter em segredo os rituais de iniciação, a falta de cuidado nesse
sentido não torna a religião vulnerável e sim o iniciado.
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