(1º parte)
Autor: Oluwo Ifagbaiyin Agboola
Os feitos de nossos antepassados que de uma forma ou de outra contribuíram para a manutenção do culto ao òrìşà em nosso país já foram abordados por vários escritores e pesquisadores com uma riqueza de detalhes irretocável, sendo assim não vamos mencionar esses fatos e essas obras detendo a nossa reflexão as últimas quatro décadas.
Nesse texto o foco principal é a tentativa de mostrar a influência positiva deixada por bons Bàbáláwos, mas também mostrar o prejuízo criado por supostos sacerdotes nigerianos á imagem do Ifá no Brasil.
Em uma abordagem paralela o mesmo trabalho vai abordar a falta de interesse de jovens Yorùbás pela religião tradicional.
A quase total exclusão de relatos da presença de Bàbáláwos atuantes na religião dos òrìsàs no Brasil se deve à acordos mantidos pelos traficantes de escravos que temiam a liderança dos sacerdotes de Òrúnmìlá.
Os Bàbáláwos poderiam influenciar os negros cativos, em um levante contra a tripulação das embarcações dos comerciantes que mantinham um grupo bastante reduzido e com poucas armas para a sua defesa.
Sem a preocupação de identificar a origem do Ifá nacional citaremos o trabalho de quatro grandes Bàbáláwos que contribuíram para a divulgação da Religião tradicional em terras brasileiras, não esquecendo que no passado grandes sacerdotes de Ifá vieram para o nosso país.
Fazer um abordagem histórica em um texto bastante reduzido nos obriga a apontar destaques correndo o risco de muitas vezes deixar para trás personagens que poderiam enriquecer a narrativa, sem querer desprezar outras informações registradas por iniciados de outras famílias e considerando a descendência como fruto do trabalho dos citados, apontaremos quatro pessoas que se destacaram com o Ifá tradicional no território brasileiro.
1- Àràbà Ifayemi Elebuibon
Trabalhos excepcionais como o do Àràbà Ifayemi Elebuibon divulgando Ifá deram início a construção de uma nova visão despertando os adeptos do culto à òrìsà para uma outra realidade no Brasil.
Em 1977 Ifayemi Elebuibon juntamente com o Bàbálóòrìşà Jose Mendes iniciaram a divulgação do culto a Òrúnmìlá.
O trabalho do Àràbà Elebuibon teve continuidade durante esses quarentas anos com uma série de viagens do sacerdote ao nosso país. Embora os rituais de itefa tenham sido desenvolvidos no território nacional por essa família á pouco tempo o fato não desmerece a enorme contribuição no processo de divulgação do Ifá no novo mundo.
2- Bàbáláwo Fabunmi Sowunmi
Depois do Trabalho Inicial do Àràbà Elebuibon em 1988 o professor Siriku Salami trouxe ao Brasil o sempre lembrado Bàbáláwo Fabunmi Sówùnmí que realizou o primeiro itefa desta família em 1989.
Este trabalho teve continuidade até o ano de 2003, nesse período conforme relatos do professor King em sua tese de doutorado, Bàbá Fubunmi em quinze anos fez 250 iniciações no Centro Cultural Oduwuwa incluindo brasileiros e alguns espanhóis.
Essa contribuição tem um valor inestimável para o desenvolvimento do Ifá no Brasil, embora nesse período não tenha sido iniciado nenhum Bàbáláwo nessa família em nosso país.
Depois disso esse trabalho continuou com seu sobrinho Bàbáláwo Awodiran Sówùnmí.
3- Àràbà Agbaye Aworeni
As visitas do Àràbà Agbaye Aworeni ao Brasil também contribuíram para a divulgação do Ifá, embora o fato dessas as visitas tenham sido minimizadas pelo desconhecimento da importância desse velho sacerdote no cenário internacional.
O Àràbà Agbaye com suas viagens á vários países incluindo o Brasil faz parte de um processo que foi iniciado pelo Àràbà Akano Fasina Agboola em 1935.
As viagens desses grandes sacerdotes de Ifá deram início a um processo que legitima a herança do culto á òrìşà fora da Nigéria.
A divulgação da importância do culto á Òrúnmìlá e da necessidade do sincronismos entre os Bàbáláwos e Bàbálóòrìşà descortina uma página da história de nossa religião que foi mantida oculta de grande parte dos iniciados na religião dos òrìsàs.
4- Olúwo Oyeniyi Awolola Agboola
No final da década de noventa dando continuidade ao trabalho do seu pai o Olúwo Oyeniyi Agboola começou fazer uma série de iniciações divulgando Ifá fora do território Yorùbá dividindo sua atenção entre o Brasil e os Estados Unidos e a cidade de Lagos na Nigéria. O Olúwo Oyeniyi segue com o mesmo método de trabalho até os dias de hoje mantendo duas frentes de trabalho uma no Brasil e outra nos Estados Unidos.
Esses trabalhos citados no texto acima fortaleceram um legado que dignificam o desenvolvimento do Ifá em nosso país tendo como base as famílias Aworeni, Agboola, Elebuibon e Sówùnmí.
Como aclaramos anteriormente esse texto aborda uma fração diminuta porem relevante diante do contexto histórico abrangente que muitas vezes é injusto por não ter como mencionar o nome de tantos desconhecidos que desapareceram vítimas da falta de cultura de um povo que infelizmente não documenta os feitos e os fatos do cotidiano religioso.
Os exemplos acima citados retratam sacerdotes do culto a Òrúnmìlá sérios que dedicam suas vidas a divulgação da verdadeira religião Tradicional Yorùbá no Brasil.
Esse trabalho desenvolvido ao longo dos últimos quarenta anos para a divulgação do Ifá foi feito inicialmente no estado de São Paulo e hoje pode ser notado em todo o país.
A iniciativa desses homens somada a herança histórica e o valoroso trabalho de nossos antepassados para a conservação do culto a òrìşà fora da Nigéria popularizaram o Ifá e tornaram o Brasil o país que mais inicia Bàbáláwos fora do território Yorùbá.
Esse grande número de pessoas interessadas por Ifá no Brasil vem criando aspectos negativos para o desenvolvimento de um trabalho sério na atualidade.
O crescente número de ocorrências envolvendo supostos sacerdotes de Ifá que comercializam informações obtidas no território em troca por depósitos feitos no Western Union indica claramente que a corrupção está misturando as relações entre o interesses financeiros e a religião.
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